Artigo de Gabriel Torres
Trump e sua equipa de palhaços psicopatas da extrema direita começam efetivamente o mandato hoje, dia 20 de janeiro – data em que escrevo este artigo. Neste momento estamos a assistir a um ataque implacável na forma de declarações e decretos que faz lembrar uma blitzkrieg política e podemos esperar que esse ritmo continue no início da administração, um período em que oposição está desorganizada e a popularidade de Trump está em alta tanto na sua base nacional como na base internacional.
Mas o que está por detrás desta tempestade de declarações e provocações que parecem tão absurdas? A extrema direita utiliza ferramentas muito eficazes para colocar em marcha seu programa imperialista bem definido por baixo da superfície encrespada e espumosa do mar das guerras das narrativas e é por aí que o “Great Game” acontece.
Estratégia de negociação: Barganha invertida
Mas como opera a estratégia da extrema direita para ganhar terreno continuamente e parecem ao mesmo tempo derrotados e vitoriosos? O trumpismo tem objetivos ambiciosos como controlar a mão-de-obra imigrante, as rotas marítimas, os recursos naturais da nova fronteira do ártico e a quebra de barreiras comerciais com o vizinho do norte. Para conseguir alcançar seus objetivos, Trump faz declarações extremas e agressivas como por exemplo, a anexação de países.
De fato, o que o imperialismo estadunidense busca é combater China e Rússia por meio dos controles das reservas naturais do ártico ocidental e das rotas comerciais marítimas. É muito provável que o imperialismo americano alcance se não todos, muitos objetivos apenas com acordos e tratados sem a necessidade de um tiro sequer.
No fim das contas, o trumpismo consegue o que sempre quis e dá aos adversários como prêmio de consolação, uma aparente derrota do trumpismo. E é isso que denomino de blefe e barganha invertida.
Política interna: Manter a base com a guerra de narrativas
A guerra (cultural) de narrativas alimentada por ataques aos imigrantes, aos LGBTQIA+, às minorias étnicas e ao direito das mulheres, faz parte da estratégia política para manter a base ideológica reacionária do Trumpismo. Toda essa disputa mediática coloca tanto a base trumpista quanto a oposição em movimento, porém essas declarações e os residuais efeitos políticos, servem também para mascarar a política bipartidária capitalista que continuará a espremer a classe trabalhadora independente da coloração partidária. Para além de lutar contra retrocessos sociais, os comunistas devem esclarecer à classe trabalhadora que sua condição precária tem raiz no capitalismo e que este está acima das cores partidárias.
Movimentos do imperialismo Estadunidense
Após a série de fracassos bélicos diretos e indiretos do imperialismo estadunidense no Afeganistão, na Ucrânia e na Palestina e com a crise econômica e social crescente, fica evidente que o expansionismo imperialista estadunidense chegou ao seu limite. Esta realidade que não é mais possível disfarçar foi percebida pela classe trabalhadora que revoltada com o status quo fez com que a campanha de Trump ganhasse tração.
Ao contrário dos devaneios e da arrogância dos últimos governos democratas, que tinham uma visão messiânica da superioridade estadunidense, Trump parece ter mais contacto com a realidade. O slogan “Make America Great Again” traz consigo a ideia da decadência desse império que está a ser ultrapassado por outros imperialismos. Neste cenário, é compreensível que as “tropas imperiais” recuem, se reagrupem e tentem manter posição.
Gronelândia
A enorme porção de terra coberta por gelo glacial que está a derreter, abriga enormes reservas de recursos minerais e energéticos vitais para manutenção e desenvolvimento da indústria, e em especial a de alta tecnologia. Muitos destes recursos que hoje estão indisponíveis pelo custo da exploração em condições adversas, logo estarão exploráveis com a nova fronteira que se abre com o aquecimento global.
A colônia dinamarquesa é pouquíssimo povoada e subdesenvolvida e isto é reflexo da vacilante e insuficiente política dinamarquesa para aquela região. Para além disso, a relação entre os dinamarqueses e os groenlandeses nunca foi das melhores.
Para além das riquezas naturais, a Groenlândia está numa região estratégica do ponto de vista militar e comercial já que as novas rotas marítimas do norte que estão a ser desenvolvidas pela Rússia e pela China passam por aquela região.
Canadá
Similar à Groenlândia, o vizinho do norte abriga enormes reservas de recursos naturais que estão a se tornar exploráveis com o aquecimento global. Além disso, a posição estratégica joga um papel muito semelhante ao que acontece com a Groenlândia. Para além destas questões, o Canadá é um importante mercado consumidor de produtos estadunidenses e sua anexação significaria a queda de taxas e barreiras comerciais, o que daria uma sobrevida para o moribundo capitalismo estadunidense.
Panamá
O controle do canal do Panamá para a guerra comercial entre os imperialismos estadunidense e chinês é de suma importância pois é, atualmente, a rota mais econômica para o envio de manufaturas da China para os países banhados pelo Atlântico e do envio de matéria-prima de países como o Brasil para a Ásia. Apesar de a China já investir em alternativas como a rota do mar do norte, o canal em construção na Nicarágua, o Canal seco de Honduras e o Porto de Chancay no Peru, algumas dessas iniciativas ainda levaram anos para se concretizarem e as que já estão a operar são insuficientes.
Quadro geral
Até aqui, apresentei isoladamente os objetivos da nova administração de Trump com relação à política externa. O que na minha análise está a se desenhar é o objetivo de rivalizar com o combo China e Rússia. Para fazer frente à Rússia, os Estados Unidos pretendem controlar e explorar as riquezas naturais do ártico ocidental e alavancar sua indústria bélica. Já, para fazer frente à China, pretendem controlar as rotas marítimas, quebrar qualquer barreira comercial com o Canadá para aumentar os lucros naquele mercado e ter o controle sobre o fluxo de mão-de-obra imigrante de acordo com a necessidade do capitalismo americano.
O mundo mudou desde que Trump terminou o seu primeiro mandato. De lá para cá a China se estabeleceu como uma potência e ameaça ultrapassar o velho império. A Rússia se consolidou, por outro lado, como uma força militar, um parceiro estratégico da China, um importante pivô na Eurásia. E apesar das sanções, a economia russa insiste em crescer. Dado este cenário da perspectiva da perda da supremacia estadunidense, a administração Trump 2 deve tomar medidas ainda mais agudas usando pressões econômicas e militares para tentar alcançar seus objetivos.
Todo este mecanismo de pressões do velho império tem um alto custo que só poderá ser pago a duras penas pela classe trabalhadora que tem pela frente a piora das condições materiais de vida. A imensa taxação de produtos importados tende a causar a alta da inflação e subsequente alta dos juros. As políticas contra os imigrantes precarizam ainda mais esta parcela da classe trabalhadora que também puxa para baixo o salário do trabalhador estadunidense. Este turbulento período histórico que se abre provocará uma explosão na luta de classes dentro dos Estados Unidos da América.