Artigo de Mónica Monteiro
“Não estou ligada diretamente a Campo de Ourique, ou ao Jardim da Parada, mas sinto-me ligada indiretamente a esta situação por ela representar todos “os Jardins da Parada” e todas as “linhas do metro” pelo país fora. Enfim. No meio de tudo, trata-se de uma luta desigual, onde, na pior das partes, impera não a sincera preocupação com a população e a sua acessibilidade a essa zona, mas o ponto que parece reger este país: o fator interesse económico”
As palavras de Sandra, uma usuária anónima no site SAPO Blogs, fazem ressoar o desespero da população face à contínua destruição da cidade à mercê da gentrificação.
Entre 2011 e 2018, os alojamentos locais aumentaram de mais 500 unidades para mais de 18000. Um crescimento de mais de 3000% em apenas sete anos. Nos dois primeiros meses de 2018, foram acrescentados outros 734.
Entre 2020 e 2023, registaram-se 71 novos empreendimentos turísticos, dos quais 52 são hóteis, 16 apartamentos turísticos, dois empreendimentos de turismo de habitação e uma pousada.
Prédios residenciais são transformados em espaços turísticos que valem, no total, 1979 quartos. Perdem-se vizinhanças e a sua essência comunitária.
A prioridade está no profit, não nas pessoas.
A imagem acima mostra o número de alojamentos apenas da plataforma Airbnb. Mais 11000 unidades, concentradas sobretudo na zona histórica. Estão registadas mais de 19000 unidades, reduzindo significativamente os alojamentos familiares previamente agregados nas freguesias.
Embora as medidas tenham sido implementadas com o governo PS, o PSD “não quis colocar nenhum entrave ao mercado”.
Um governo que negligencia a sua população não merece governá-la.
“Tudo o que é tradicional está a desaparecer”
É uma realidade impossível de negar. Tanto a direita como a esquerda reconhecem o problema da devastação do caráter sociocultural do país. Infelizmente, a cobiça da direita alimenta apenas a sua hipocrisia, recorrendo a discursos de ódio e nacionalismo contra vítimas do sistema que tanto glorificam. A raiz do problema está no egoísmo inerente da burguesia, não no imigrante.
A degradação da qualidade de vida do cidadão não é devido ao fluxo de imigração, mas sim da elite que criou as condições materiais que meteram em risco a vida do imigrante. A cegueira face ao esquema imperialista contribui apenas para a distorção da verdade com a finalidade de dividir as massas. Tanto o cidadão como o imigrante são vítimas do mesmo conflito de classes. Unidos lutamos pelo bem de todos.
“Salvar o Jardim da Parada” é um movimento de agrupamento de cidadãos que luta pela preservação e integridade do Jardim da Parada, o último espaço verde da zona residencial de Campo de Ourique. O jardim, que há gerações recebe os seus residentes, está apontado como local para a instalação do Estaleiro para a construção da estação do Metro de Campo de Ourique.
O seguimento desta obra implica a morte do Jardim, das suas árvores centenárias e da comunidade. O “pulmão do bairro” é um dos últimos jardins românticos, que enquanto património natural serve igualmente de casa a um variado ecossistema.
Apesar disso, o grupo não é contra o esforço pela melhoria da mobilidade urbana. Aliás, foram propostas alternativas com base num estudo prévio sobre o impacto ambiental que resulta do prosseguimento da obra. Estas incluem a alteração do local para: junto à Igreja de Santo Condestável; o Largo Afonso do Paço, que há muito tempo carece de uma requalificação na qual se poderia integrar a nova estação; no espaço vazio pertencente à EPAL (Empresa Portuguesa das Águas Livres), junto das Amoreiras.
“A melhoria da mobilidade é desejável mas não à custa da destruição das suas árvores centenárias e algumas até há pouco classificadas e protegidas.”
A proposta foi realizada sem a consideração prévia dos moradores. O planeamento da construção deu-se “sem a permissão de qualquer tipo de participação cívica”.
Foi apresentada no dia 17 de Outubro de 2023 uma petição assinada por 8 mil pessoas, maioritariamente moradores e/ou trabalhadores da zona, na Assembleia Municipal de Lisboa. Convocou-se o agrupamento dos participantes e apoiantes, e que juntos mostrassem a sua defesa pelo espaço verde e a sua importância para a cidade de Lisboa para as gerações futuras.
Não surpreendentemente, a Câmara Municipal mostrou-se indiferente. A construção terá início a Janeiro de 2025.
O Ministro do Ambiente, o Primeiro Ministro e o Presidente são responsáveis pela consciente destruição de patrimónios naturais e culturais à custa dos interesses económicos, que se extendem pelo país todo. As suas prioridades desviam-se do bem-estar dos cidadãos para favorecer a burguesia.
Lembremo-nos da força das massas, de forma a que possamos derrubar os poderes institucionais que as querem silenciar.
Ao celebrarmos os 50 anos do 25 de Abril, comemoramos também o espírito revolucionário da população a favor da sua liberdade e de uma qualidade de vida melhor.
É importante consciencializarmo-nos do facto de que o sistema capitalista é inerentemente fraudulento. Falhou-nos enquanto estrutura organizacional societal ao opor-se a qualidades intrísecas do ser humano, seres essencialmente comunitários, sociais e empáticos. Normalizou um estilo de vida individualista, ultimamente egoísta, em torno de uma constante procura materialista. Instituiu uma rotina de esforço laboral até exaustão. Apropriou-se do ócio como bem exclusivo. Incapacitou vivências. Expropria todos a benefício de uns poucos.
Lembremo-nos dos nossos antecedentes e da sua determinação na conquista por um futuro melhor. Não deixemos essa oportunidade passar-nos ao lado. Não ficaremos submissos à bota.
LUTAREMOS PELOS NOSSOS DIREITOS.
UNIDOS VENCEREMOS.