Defendamos a Sirigaita, defendamos o direito à militância e à cultura!

Arturo Rodríguez

A Sirigaita é uma associação situada no Intendente, no centro de Lisboa, gerida por voluntários e sem fins lucrativos, e que tem acolhido inúmeras iniciativas culturais, sociais e políticas desde a sua fundação em 2018. Entre os diferentes movimentos que integram o espaço encontramo-nos nós, os militantes do Coletivo Marxista. Este espaço está a ser alvo de uma tentativa de despejo, que faz parte da onda de gentrificação e especulação que está a grassar em Lisboa e que já tem destruído incontáveis associações e espaços. Devemos nos organizar e mobilizar contra este ataque contra o tecido político e cultural de Lisboa, e tornar a Sirigaita numa trincheira na luta contra a especulação e a cidade oca!

A situação da Sirigaita tem-se tornado tristemente comum nos últimos anos, e qualquer pessoa envolvida em iniciativas de autogestão em Lisboa conhece muitos casos assim: o senhorio, um grande especulador que aparece nos Panama Papers, dono de dúzias de propriedades na cidade, não quer nos renovar o contrato, que finda no final de fevereiro de 2024, preferindo seguramente transformar o espaço num hotel, restaurante, ou alguma empresa turística, ou simplesmente deixar o imóvel devoluto à espera de uma maior revalorização da zona, como já tem acontecido noutras coletividades despejadas para nada, como a Casa dos Amigos do Minho, Grémio Lisbonense e o Clube Recreativo dos Anjos. Os liberais dizem-nos que o mercado assegura o uso mais racional e justo do espaço. Mas o caso da Sirigaita claramente refuta esta afirmação: o que é mais útil para a cidade, uma coletividade que acolhe um leque enorme de atividades cada mês, que potencia a cultura, o pensamento crítico e o ativismo, ao alcance de todos, ou um negócio de aluguer de segways para turistas, uma “tourist trap”, um hotel de luxo, ou um prédio devoluto?

As dificuldades da Sirigaita, na verdade, começaram antes do final do contrato, com a negativa do senhorio de investir num espaço com problemas recorrentes de alagamentos e diferentes carências logísticas. Foram os coletivos da Sirigaita quem mantiveram este pequeno espaço em boas condições através dos seus esforços e recursos. Com efeito, apesar das dificuldades, graças à energia e a criatividade das coletividades, a Sirigaita tem-se erigido num importante centro de ativismo e lazer alternativo no centro de Lisboa, que oferece atividades a preços económicos ou gratuitamente e é um espaço fulcral para a organização política e social. Representa um oásis na cidade oca de Carlos Moedas e os seus amigos especuladores. Como acontece com muitos outros coletivos e organizações, desde Stop Despejos a Climáximo, muitas das atividades do Coletivo Marxista tem-se desenvolvido na Sirigaita. Qualquer movimento precisa de uma base material, começando por um espaço onde se reunir, discutir, preparar materiais, socializar, etc. Portanto, o risco de a Sirigaita ser despejada é uma grave ameaça para todo o tecido cultural e militante da cidade, que teria um impacto muito negativo para diferentes lutas.

O desaparecimento da Sirigaita representaria mais um degrau no caminho à pulverização capitalista da cidade, que é o objetivo da burguesia portuguesa e os seus representantes na Câmara e no governo. A classe dominante portuguesa, fraca e parasitária, procurou sair da crise de 2008 leiloando as cidades do país numa orgia especulativa, começando por Lisboa. Milhares de trabalhadores são despejados ou deslocados para a periferia ou concentrados em alojamentos abarrotados, caros e de baixa qualidade, enquanto associações e centros de lazer são encerrados e substituídos por negócios turísticos ou alojamentos locais, tudo no altar dos lucros dum punhado de ricos, nativos e estrangeiros. Os moradores da cidade não têm onde viver, mas também não tem onde se reunir, onde se divertir, onde se organizar. É uma guerra unilateral dos capitalistas contra os habitantes de Lisboa e das demais cidades portuguesas. A situação torna-se desesperada. É preciso resistir e contra-atacar. Convidamos os nossos seguidores a se envolver nas iniciativas contra o despejo e a apoiar a caixa de resistência. A Sirigaita deve ser a linha vermelha que trave a ofensiva capitalista, e que inspire e dê fôlego aos jovens e aos trabalhadores para se organizar e resistir. Que a Sirigaita seja a nossa trincheira na luta pelo direito à cultura e a militância!

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