Traduzimos aqui o comunicado dos nossos camaradas catalães após o despejo do centro social Antiga Massana, em Barcelona. Como acontece em Lisboa e no Porto, a gentrificação está a grassar em Barcelona, ameaçando não apenas o direito à habitação, mas também o direito à organização, à cultura e à militância para a classe trabalhadora, com ataques a centros sociais como a Antiga Massana e, em Portugal, espaços como a Sirigaita, a Zona Franca, a Seara ou os Amigos do Minho, já despejados ou sob ameaça de despejo. Mas também por toda parte cresce a resistência aos ataques dos especuladores.
Na noite de 27 de Janeiro, quando não havia ninguém no edifício e sem aviso prévio, os Mossos d’Esquadra, a polícia autonómica catalã, entrou no centro social Antiga Massana de Barcelona para pôr fim a 5 anos de luta da classe trabalhadora pela força. Milhares de pessoas reuniram-se durante o dia para protestar contra o despejo, demonstrando solidariedade para com os moradores que utilizavam o espaço e reivindicando a importância da organização da classe trabalhadora. A repressão foi dura, com cargas e detenções.
A tensão começou quando a polícia investiu contra os manifestantes que tentavam impedir a saída de um camião cheio de material que estava a ser armazenado para uso coletivo na Antiga Massana. Albert Batlle, vice-presidente da Câmara de Barcelona e vereador da freguesia de Ciutat Vella, garantiu que todo o material regressaria às mãos dos seus proprietários originais, desde que estes consigam provar que o são (ElDiario 28/01/25). Mais uma vez, as suas acções demonstram que o único interesse dos políticos é a defesa da propriedade privada. A polícia desempenha o papel de uma força armada com a qual o Estado obriga ao cumprimento das leis por ela ditadas, de forma a proteger o direito à propriedade.
Por outro lado, quando a sua própria legalidade os obriga a conter-se, não hesitam em a contornar. O aviso de despejo estava publicado há meses com data em aberto, ou seja, sem data ou hora definida. No entanto, os representantes da Antiga Massana tinham interposto recurso contra o despejo, recurso que ainda não tinha sido judicialmente encerrado quando esta manhã procederam ao despejo, sob a tutela judicial, segundo dizem, do Tribunal Contencioso-Administrativo n.º 17 de Barcelona. Isto significa que ignoraram voluntariamente o recurso e abriram um processo expresso para justificar a sua actuação. Para terminar de expor a impunidade com que agem, é preciso deixar claro que os movimentos sociais presentes no espaço tentam assumir o controlo há algum tempo por vias legais da Antiga Massana. Estes esforços legais foram acompanhados por grandes mobilizações de milhares de pessoas em apoio ao centro social e contra a gentrificação. Mas parece que os planos da Câmara Municipal para “transformar o bairro do Raval” (ARA, 28/01/25) são mais importantes.
Ainda não sabemos o que será feito com o espaço que a Câmara tirou das mãos da classe trabalhadora. Fala-se de ligar a Plaça de la Gardunya – onde se situa a Antiga Massana – com o mercado de La Boqueria e o antigo Hospital de la Santa Creu (ARA, 28/01/25). A simples menção de La Boqueria prevê o pior destino para o espaço despejado: considerando que o popular mercado de Barcelona sofreu durante anos uma gentrificação consciente que fez com que o seu público-alvo fossem as carteiras dos turistas, não seria de admirar que toda a Plaça Gardunya, mesmo ao lado do mercado, irá para o mesmo lado.Durante a sua actividade, a Antiga Massana serviu como ponto de encontro do Sindicato de Habitação do bairro do Raval e para a organização de uma rede de apoio alimentar, ou seja, como ponto de encontro de grupos que lutam para garantir o que o Estado tem repetidamente prometido, sempre em vão: um teto decente sobre as suas cabeças e comida na mesa. Também organizou e promoveu todo tipo de actividades, desde aulas de catalão e espanhol a atividades desportivas. Noutras palavras: ajudou a integrar socialmente todas aquelas pessoas em risco de exclusão, quer por razões económicas, quer linguísticas, e encorajou a sua real participação política, outros dois problemas sobre os que o governo fala em vão. A Antiga Massana, para resumir, contribuiu eficazmente para melhorar a vida dos trabalhadores da freguesia de Ciutat Vella e do bairro do Raval, negligenciados pelas autoridades.
A perda da Antiga Massana é um duro golpe para a classe trabalhadora de Barcelona. Nós, na Internacional Comunista Revolucionária, solidarizamo-nos com a Antiga Massana e todos aqueles que ontem sofreram repressão por defenderem os direitos democráticos e de organização política da nossa classe. Teremos de continuar a lutar para construir uma organização revolucionária que expresse os interesses da classe trabalhadora e dos oprimidos, o que passa, em última instância, pelo derrube do sistema capitalista em prol de uma nova sociedade, na qual o espaço e a economia sejam geridos democraticamente.
Solidariedade à Antiga Massana!
Viva a luta da classe trabalhadora!