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A frente única: Golpear juntos, marchar separados! 

O marxismo é muito mais do que uma teoria que analisa o capitalismo e demonstra como o derrotar. Ser comunista é muito mais do que saber toda a produção teórica que faz parte da herança marxista, é, também, escutar a voz que ecoa através dos tempos, convocando os oprimidos a unirem-se e reivindicarem o seu lugar, fazendo História pelo seu próprio pulso. 

A unidade na luta contra o capital pode servir como meio de esclarecer as massas, aumentando a sua consciência de classe, como também é uma forma desmascarar as organizações que se afirmam como progressistas, mas na hora da verdade apelam à conciliação de classes, atraiçoando a classe trabalhadora, nacional ou internacional. 

  1. Unidade na diversidade 

Unidade na diversidade é muito mais do que um lema sonante. Significa que no processo de luta, poderemos e devemos unir forças com outras camadas da população que não são comunistas e lutar contra a opressão. Nem todos têm consciência do chicote burguês, mas nós temos e devemos unir forças, procurando esclarecer, na luta, para derrotar o inimigo comum. 

Quando os preços da habitação sobem, tanto é afetado operário fabril como o supervisor de call center que pensa estar um degrau acima da funcionária das limpezas, muito embora os dois sejam explorados de igual forma; quando os salários são atacados pelo capital, tanto é afetado o trabalhador nacional como o imigrante. Por isso, quando a classe trabalhadora se organiza por uma causa, como o direito à habitação, aumento dos salários ou pela Palestina, estamos presentes. 

A burguesia sempre tem em vista encontrar maneiras de dividir os trabalhadores, seja através da concorrência entre si no mercado de trabalho ou entre trabalhadores migrantes e nacionais, bem como pelo género. Contudo, a solidariedade é o que mantém a classe trabalhadora unida e, mesmo reconhecendo as nossas diferenças, todos enfrentamos um inimigo comum: o sistema capitalista. A unidade não implica ignorar os problemas particulares de cada grupo, mas, pelo contrário, a necessidade de os integrar no programa de luta comum da classe trabalhadora: por exemplo, a unidade entre trabalhadores nativos e estrangeiros só é possível se o movimento operário lutar contra o racismo e pela igualdade de condições. Por isso é tão importante que cada trabalhador desenvolva a consciência de classe, admitindo que não está isolado, mas sim integrado numa classe que partilha interesses e lutas comuns. A luta de classes é o elo que nos une. 

É importante recordar que, embora o nosso objetivo seja o derrube do capitalismo, existe espaço para lutar, no quadro do capitalismo, por melhores condições materiais de vida, avanços de direitos políticos ou de defesa contra as investidas da burguesia, que procurará suprimir, direta ou indiretamente, as conquistas já realizadas ou dando com uma mão e retirando com a outra. 

As frentes únicas materializam este espírito de luta e podem, de certo modo, levar as classes trabalhadoras a conclusões verdadeiramente progressistas. Não estamos, nem nunca estaremos, satisfeitos com as migalhas que sobrem da burguesia e, por isso continuamos a lutar, ainda que comecemos por reformas, até que a classe trabalhadora se aperceba da força que tem quando mobilize e tome o poder para si. Por isso, os comunistas, enquanto vanguarda, devem estar junto dos trabalhadores quando se organizam manifestações, greves, coligações com os movimentos estudantis e da causa ambiental ou feminista. 

No entanto, estamos conscientes de que, por vezes, alguns reformistas podem tentar desviar a luta contra os nossos objetivos de classe. Nós somos claros nos nossos objetivos e ambições revolucionárias e, embora sabendo que na hora da verdade os reformistas vacilam, por cobardia ou cinismo, lutamos mesmo em movimentos liderados por reformistas, porém sempre fazendo presente os nossos slogans e bandeiras revolucionárias, sem conceções políticas. 

É importante compreender que a colaboração com os reformistas não apenas demonstra a fragilidade das suas posições, mas também expõe as suas limitações e vacilações de maneira mais eficaz. Quando os reformistas são envolvidos na luta ao lado dos comunistas, as suas contradições e a hesitação em adotar medidas verdadeiramente progressistas torna-se evidentes. A luta conjunta não apenas revela as divisões ideológicas, mas também oferece uma oportunidade de educar e esclarecer a classe trabalhadora sobre a necessidade de uma abordagem mais radical e revolucionária na procura de mudanças significativas. 

Esta unidade é a expressão dos objetivos comuns que precisam ser combatidos, porque a sociedade sempre se resume a explorados e exploradores, tanto no plano nacional quanto internacional. Estes pontos em comum devem resultar em passos concretos de luta contra o capital e a burguesia, inimigos comuns, e não representa um abandonar da nossa posição revolucionária como também não somos sectários ao recusar ombrear na luta com quem não compartilha das nossas posições ideológicas. 

  1. Independência ideológica 

Circula um manifesto em apoio à Palestina, que o Colectivo Marxista não assinou e que muitos poderão perguntar-se porquê. Afinal, somos comunistas e a libertação de qualquer povo oprimido faz parte dos nossos desejos e alvos de luta. Muito embora possamos estar na rua ao lado de reformistas ou pequeno burgueses que se acham muito progressistas, mantemos independência ideológica e somos coerentes com os nossos princípios. Não nos basta que o diagnóstico realizado esteja correto, a estratégia também tem de estar correta. 

No referido manifesto, à semelhança de outros movimentos pela paz na Palestina, a raiz dos problemas da questão palestiniana está corretamente descrita: genocídio perpetrado por Israel; ocupação ilegal de território palestiniano; desrespeito pelos mais elementares direitos humanos e tudo isto acompanhado de crimes de guerra. O problema, concluem, é a política de apartheid de Israel. Concordamos e esperávamos que as soluções fossem revolucionárias. No entanto, quando observamos que as soluções apontadas são apelar à pressão política contra Israel, exigir o cessar-fogo ou remeter para a ONU a proteção de Gaza, não podemos subscrever esse ou qualquer outro manifesto nos mesmos moldes. 

Como pode a ONU garantir a proteção de Gaza se nunca conseguiu que uma das mais de 100 resoluções fosse respeitada? O cessar-fogo é importante, mas mais ainda é que Israel saia dos territórios ocupados e regressemos, pelo menos, às fronteiras de 1947. Os efeitos da pressão política são quase nulos quando são os EUA & Cia a financiar e suportar Israel. 

Como Ghassan Kanafani sintetizou, não é possível haver negociações de paz entre a espada e o pescoço, e por isso a nossa posição é clara: deve haver cessar-fogo imediato, mas se os israelitas persistem na sua ânsia colonialista e destrutiva, então defendemos que os palestinianos têm o direito e o dever, de resistir pelas armas à ocupação; desmantelamento dos colonatos na Cisjordânia e retirada dos militares israelitas; o muro criado por Israel na Cisjordânia, tem de ser arrasado; fim ao cerco a Gaza; libertação imediata de todos os presos políticos palestinianos das prisões israelitas; Israel tem de pagar as reparações resultantes da sua ocupação; direito de existência palestiniana, nomeadamente, com a sua autodeterminação. Estas reivindicações só poderão ser alcançadas através da luta de massas, envolvendo os trabalhadores e os jovens palestinianos, como também com o apoio solidário dos outros povos da região e do mundo. 

A solução para o problema que se vive na Palestina passa pelo derrube da burguesia e a instauração de uma federação socialista, onde os povos possam conviver pacificamente, sem as ingerências imperialistas. 

A necessidade de soluções revolucionárias é crucial, especialmente quando se trata da questão palestiniana. É fundamental destacar como isso se insere numa estrutura mais ampla de luta global contra o imperialismo, o que implica reconhecer que o problema na Palestina não é isolado, mas um reflexo das dinâmicas de poder internacionais. Portanto, uma solução revolucionária não pode ser limitada a medidas isoladas, como cessar-fogo ou apelos à ONU. Deve incluir o derrube da burguesia em todos os países imperialistas, a descolonização efetiva, a repatriação dos territórios ocupados e a construção de uma federação socialista que permita que os povos convivam pacificamente, livres das ingerências imperialistas. É por intermédio de uma estratégia revolucionária abrangente que a luta pela libertação da Palestina se liga à luta mais ampla da classe trabalhadora contra o sistema capitalista explorador em todo o mundo. 

Ao nos mantermos fiéis aos nossos princípios, não abandonamos a causa dos oprimidos porque não concordamos com os vários grupos que, por conciliação ou cobardia, nem se atrevem a defender publicamente os mais elementares direitos palestinianos. Na hora de golpear, respondemos ao apelo e ombreamos pela causa de quem se revolta contra o opressor. Embora discordemos contra o coro geral, defendendo o direito à intifada, que significa levantamento, estamos presentes quando é preciso levantar a voz e os punhos. Ainda que não tivéssemos subscrito o manifesto, estaremos presentes e participaremos ativamente nos debates e processos organizativos do movimento em solidariedade com os palestinianos. 

Somos solidários, nas palavras e nas ações, porque no fim, somos igualmente explorados, comunistas e não comunistas, e o objetivo é derrotar o capital, a burguesia e qualquer movimento reacionário que procure fomentar o imperialismo. 

Intifada até à vitória! 

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About Davide Morais Pires (Colectivo marxista)

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