A dívida pública portuguesa desceu abaixo dos 100% do PIB pela primeira vez desde o início da dívida soberana. Contudo, entre o peso da crise social e turbulência política já em período de pré-campanha, esse grande “desígnio nacional” mereceu menos destaque e gerou menos entusiasmo do que, talvez, fosse esperado pelo governo. E, na verdade, este triunfo do executivo PS tem explicações bastante comezinhas. Por um lado, é o resultado de “mais imposto e menos investimento”, isto é: de mais sacrifícios impostos à classe trabalhadora e mais degradação dos serviços públicos. Por outro, grande parte da redução da dívida pública em 2023 foi resultado das disponibilidades de tesouraria da Segurança Social, isto é: dinheiro que terá de ser reposto mais à frente para não ficar um buraco nas contas da Segurança Social… “Milagres”? Nem sequer em Fátima!
Nas eleições regionais dos Açores a abstenção baixou e votaram mais 11 mil eleitores. Os partidos da AD tiveram mais 5 mil votos e o Chega duplicou a votação anterior, arrebatando mais 5 mil votos. Mesmo com mais 1000 votos (curiosamente o Bloco perdeu 1000 votos…), o PS ficou com menos percentagem e ficou-se pelo segundo lugar. A direita mobilizou-se e o voto de protesto deslocou-se para aí. À esquerda o Bloco ficou reduzido a um deputado e a CDU continua fora do parlamento. Eram eleições regionais, mas o ensaio para 10 de março não é brilhante.
Os polícias da PSP e da GNR querem subsídio de risco, à semelhança dos polícias da PJ. Entre 2000 e 2022 trinta e um polícias perderam a vida no exercício de funções: uma média de 1,4 por ano. Só nesse ano de 2022 morreram em acidentes de trabalho 54 operários da construção civil, 19 das indústrias de transformação e 16 operários agrícolas, para um total de 131 vítimas mortais. É mais arriscado trabalhar nas obras do que na polícia, mas tendo em conta os sucessivos relatórios sobre os maus tratos sofridos (sobretudo) por migrantes, trabalhadores e jovens racializados às mãos da polícia, é caso para perguntar quem mais precisa dum subsídio de risco: os agentes ou os detidos?
Os agricultores estão em protesto por mais subsídios e contra as medidas de proteção ambiental e de saúde pública como a descarbonização e o fim da utilização de pesticidas na agricultura, que há muito estão apontados como fatores de cancro. A lucratividade do modelo de cultivo intensivo dominada por grandes empresas agrárias não se pode sobrepor à saúde pública e ao combate à degradação ambiental. Como comunistas opomo-nos à subsidiação permanente das atividades agrícolas, que não resolve os problemas dos pequenos agricultores, não baixa os preços aos consumidores e apenas engorda as contas bancárias dos grandes grupos agrários e as margens de faturação dos monopólios da distribuição. As famílias Soares dos Santos e Belmiro Azevedo, cujas fortunas foram alicerçadas no sector da distribuição, estão respetivamente no 2º e 4º lugar dos milionários em Portugal.
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