A luta contra a discriminação sexual está ligada à luta contra a sociedade de classes em geral por várias razões. A primeira é que só a abolição da sociedade de classes pode criar a base económica material e o impulso cultural suficientes para desmantelar o modelo da família monogâmica como única unidade básica da sociedade. Realizando socialmente todas as tarefas hoje atribuídas à esfera da família, e principalmente às mulheres (cozinhar, limpar, criar os filhos), e permitindo o livre desenvolvimento de indivíduos com acesso aos melhores recursos materiais e culturais que a sociedade pode proporcionar, será possível facilitar um processo através do qual os laços interpessoais e familiares se libertem gradualmente das necessidades materiais e correspondam unicamente aos desejos românticos e sexuais, dissolvendo assim as normas opressivas e discriminatórias que existem atualmente.
A segunda razão é que a grande maioria das pessoas LGBT são trabalhadores, jovens, trabalhadores temporários, desempregados, que experimentam uma dupla opressão em relação à sua classe, no local de trabalho e condições de vida (ou sobrevivência), e sua identidade ou orientação sexual. Juntar as lutas contra estas duas formas de opressão é, portanto, a coisa mais natural, especialmente quando consideramos que o inimigo é o mesmo. Além disso, não se deve esquecer que os preconceitos homofóbicos também são fomentados para dividir os trabalhadores – por exemplo, para fazer com que os trabalhadores heterossexuais acreditem que, embora possam ser oprimidos, ainda são superiores à pessoa gay (que satisfação!), da mesma forma que os preconceitos racistas são alimentados. O papel desempenhado pela direita (não apenas a extrema-direita…) neste processo é evidente.
Quem diz que as duas frentes de luta devem ser separadas está a fazer o jogo do inimigo. E muitas vezes, no movimento LGBT, as pessoas que promovem essa postura são indivíduos ricos que não experimentam os problemas materiais enfrentados pelos trabalhadores e jovens LGBT.
A eleição do novo governo AD e a ascensão da extrema-direita colocam ainda a tónica noutra questão: sob o capitalismo todos os direitos democráticos, todos os avanços cívicos contra o obscurantismo, preconceito e a reação podem ser revertidos, se não lutarmos e os defendermos. Infelizmente estamos a observar isso mesmo já noutras latitudes e não podemos permiti-lo. Façamos das Marchas do Orgulho, sábados 29 de junho no Porto e 6 de julho em Lisboa, não apenas momentos de festa e celebração, mas também de combate!