Zelensky foi convidado para discursar online perante o parlamento português, de modo a repetir pela enésima vez pedidos de envio de mais armas, de mais sanções e se tiver de ser, da terceira guerra mundial – que é o que inevitavelmente sucederia se fossem satisfeitos todos os seus pedidos – incluindo o encerramento do espaço aéreo sobre a Ucrânia ou o envio de tropas da NATO para o terreno.
Provavelmente quase todos os líderes políticos no parlamento português sabem-no, mas quase todos se prontificaram a anuir, participar e aplaudir a sessão de propaganda belicista que instrumentalizou de modo banal e humilhante o parlamento português e onde a única dúvida era saber se Zelesnky envergaria uma camisa caqui militar verde… ou uma camisa caqui militar verde!
Numa nota muito comovente, o presidente da Assembleia da República Augusto Santos Silva proclamou a “unidade nacional” contra a agressão russa recebendo uma ovação unânime e entusiástica – a segunda da tarde, logo depois do caloroso aplauso reservado ao Eddie Vedder, perdão, presidente Zelesnky que, nesta sua tournée mundial, veio finalmente a atuar em Portugal.
Para quem não sabe, Zelensky foi convidado através de proposta do PAN – que é um partido pacifista que defende o envio de armas para a Ucrânia, a criação de um exército europeu e o incremento de gastos militares.
O cúmulo da incoerência, contudo, reservamo-la para o Bloco de Esquerda, que é uma referência para milhares de jovens e trabalhadores, mas que capitulou em toda a linha, defendo como solução para a guerra aquilo que a NATO defende: mais armas para a Ucrânia, mais sanções para a Rússia.
Catarina Martins, acompanhada de Ventura, Cotrim, Rui Rio ou António Costa aplaudiram de pé o discurso de Zelesnky, abençoado por Santos Silva sob o proclamado desígnio da “unidade nacional” contra os russos. Esta imagem, por si só, deveria dar que pensar ao conjunto dos militantes do Bloco de Esquerda e suscitar algumas interrogações.
Ou como o revolucionário alemão Karl Liebknecht, camarada da Rosa Luxemburgo, costumava dizer: “sempre que dou comigo a votar no parlamento ao lado dos partidos burgueses, interrogo-me sobre onde me terei enganado?”.
Por fim, cabe uma palavra de elogio ao Partido Comunista Português pela postura acertada que teve neste episódio, recusando-se a participar nesta encenação que atenta contra os interesses dos trabalhadores e dos povos, não apenas de Portugal, mas de toda a Europa.
Seria talvez politicamente mais fácil sorrir e bater palmas, deixar-se levar no embalo da “unidade nacional”, mas o PCP, malgrado toda a campanha de vilipendiação, truncagem, insulto, tem sabido manter uma linha de resistência à “unidade nacional” em torno do apoio à politica da NATO/U€ à guerra na Ucrânia.
E de modo surpreendente, a sondagem publicada hoje no Diário de Notícias informa que 23% dos inquiridos “concorda” ou “concorda fortemente” com a posição do PCP sobre a recusa em participar nesta aparição virtual de Zelesnky no parlamento português! Se dúvidas existissem aqui está um importante indício que a guerra não reúne nenhum consenso, nenhuma “unidade nacional”!
É, contudo, importante não se remeter o PCP a ingénuos apelos “à paz” e concórdia entre os imperialismos que disputam a Ucrânia. É urgente organizar e dirigir a classe trabalhadora na defesa dos seus salários, poder de compra e postos de trabalho ameaçados pela guerra. É imperativo organizar e dirigir a juventude e os trabalhadores na luta contra o partido da guerra, da pseudo ”unidade nacional”: só através da mobilização poderemos forçar os nossos imperialistas à mesa das negociações primeiro, e ao seu derrube, depois!
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