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O governo caiu, a austeridade continua! 

O fim do IVA zero nos produtos básicos já começou a fazer-se sentir: de acordo com a DECO, um cabaz de 63 produtos básicos aumentou 6 euros, atingindo os 236,04 euros – o valor mais alto destes 2 anos de espiral inflacionária, cujo aumento acumulado atinge os 50€! Não foi surpresa: Já no fim do ano transato éramos avisados que os produtos básicos iriam sofrer um aumento superior a 10%. Os preços irão, portanto, ainda subir mais nos próximos dias.  

O custo da Habitação tampouco tem tréguas: espera-se o maior aumento de rendas dos últimos 30 anos! Também os contratos anteriores a 1990 irão poder ser atualizados de acordo com a inflação: 6,95%. Naturalmente, pela antiguidade dos contratos, serão sobretudo idosos pensionistas os inquilinos abrangidos. Também para quem está a pagar casa própria as notícias não são animadoras: para um empréstimo de 150 mil euros a 30 anos e indexados à taxa euribor de 12 meses, haverá um aumento mensal de juros de 58 euros, atingindo os 776 euros por mês. 

E na área dos transportes…? Mais más notícias! Para quem viaje ocasionalmente, o aumento de preços será elevado: mais 15 cêntimos por bilhete de metropolitano de Lisboa, enquanto uma viagem entre Lisboa e Setúbal ficará agora agora pelos 5,35€, por exemplo. Vários operadores irão aplicar o aumento de tarifa para o máximo: 6,43%. Já as viagens entre Viana do Castelo e o Porto aumentaram mais de 100%! 

Em relação ao Serviço Nacional de Saúde, o caos a que está sujeito pela mão do governo PS não dá sinais de amainar, mas, entretanto, o antigo bastonário dos Médicos Miguel Guimarães fez questão de ser um dos rostos da nova AD. Isto quando ainda não esquecemos como a bastonária dos Enfermeiros (acusada de peculato e falsificação de documentos) fez questão de “ir dar um beijinho de amiga” ao líder da extrema-direita. Mais de metade do orçamento de Estado para o SNS é entregue aos privados, mas não lhes basta: Poderosos interesses conspiram contra o acesso universal à saúde pelo povo português. 

No Ensino público,  ao fim de meses, mais de 1000 alunos continuam sem professor a, pelo menos, uma disciplina . Com uma classe de professores envelhecida, mal paga e desmotivada, com alunos com vidas familiares precarizadas pela austeridade dos salários e pela selvajaria dos turnos e sujeitos aos lockdowns e à má gestão da pandemia, não pode causar surpresa a queda abrupta no desempenho a leitura, ciência ou matemática. 

Finalmente, há dias o presidente da Associação Portuguesa de Fundos de Investimento Pensões e Património veio a público avisar (ou seja, ameaçar) que, no futuro, os reformados “têm de ganhar menos”. Isto apesar de ficarmos a saber que a idade da reforma, irá aumentar mais 3 meses (para os 66 anos e 7 meses) já em 2025. 

Os abutres rondam: Saúde, Educação e Segurança Social são os 3 pilares daquilo a que se convencionou chamar de “Estado social” e que estão em risco de ruir sob a crise do capitalismo, incapaz de proporcionar acesso aos cuidados básicos de saúde aos trabalhadores, educação gratuita aos seus filhos e uma reforma digna para a velhice.  

No plano internacional continua a guerra da Ucrânia e o genocídio em Gaza e  a guerra comercial entre Estados Unidos e China continua em escalada. Guerra, destruição ambiental, austeridade. Seja na Argentina ou na Finlândia a receita é a mesma: obrigar os trabalhadores a pagar pela crise. O sistema capitalista está a meter água por todos os lados, mas os líderes reformistas dão mostras de nada compreender e de nada terem aprendido com a experiência dos últimos anos.  

Com o país à deriva e a classe trabalhadora a ser sangrada, Mariana Mortágua veio dar uma mão ao novo secretário-geral do PS atribuindo-lhe “créditos de esquerda”, ao afirmar que irá assumir “a responsabilidade de assumir novos caminhos de diálogos “. Isto já depois de Paulo Raimundo ter afirmado que “o PCP nunca faltará para dar contributos positivos”! 

Os resultados do “diálogo” e dos “contributos positivos” da Geringonça original ficaram à vista na hecatombe eleitoral dos partidos mais à esquerda em janeiro de 2022, mas também na atual crise (da Saúde à Habitação, da inflação aos juros) que a governação da Geringonça não soube, não quis evitar. Se num período de relativa estabilidade (com a exceção do salário mínimo) os rendimentos dos trabalhadores estagnaram, as alterações da Troika às leis laborais não foram revistas, ou a “Lei Cristas“ das rendas não foi abolida; como é possível que estes líderes acreditem que, em plena crise do capitalismo, serão agora capazes de “salvar o SNS”, “reforçar a Escola pública” ou “aumentar os rendimentos de quem trabalha”?  

Ao invés de denunciarem a falência do sistema, de apresentarem uma alternativa anticapitalista e mobilizarem os trabalhadores e a juventude para a revolução necessária, os líderes do PCP e do Bloco fazem questão de aparecer como políticos “responsáveis” e “dialogantes”, não hesitando em sinalizar desde já o seu desejo de se enfiarem de novo na alcova do PS – este mesmo PS cujo governo medíocre caiu minado pela crise e pelos escândalos. Ao invés de se apresentarem como a alternativa ao PS, aparecem como seu pronto-socorro!

Se fossem bem-sucedidos, tudo o que os líderes do Bloco e do PCP seriam capazes de alcançar era tornarem-se nos sócios menores do Pedro Nuno Santos e amarrarem os respetivos partidos à responsabilidade de gerirem a crise capitalista e aplicarem a austeridade sobre os trabalhadores e a juventude, degradando ainda mais a pouca autoridade política que ainda vão tendo. Aos seus militantes e simpatizantes apelamos para que reflitam no caminho que os seus dirigentes tomaram, nas consequências que estão à vista de todos e nos novos desastres que se anunciam. Ano Novo não tem de ser igual a vida velha! É preciso construir uma alternativa revolucionária ao capitalismo e é nesse combate que nós comunistas estamos empenhados.  

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