Por Gustavo Magalhães Mourinho, CCR Coimbra
Um pouco por todo o país, especialmente nas regiões norte e centro, uma onda de incêndios destrói as nossas florestas, mata animais, realoja famílias e reduz significativamente a qualidade do ar. Mas estes são apenas aspetos sintomáticos de ciclos políticos de planeamento florestal baseado sobretudo na exploração dos recursos e falta de políticas públicas no controlo de incêndios.
Em Portugal, cerca de 25% da área florestal é composta por eucaliptais na sua maioria artificiais, e que são plantados em massa devido ao seu crescimento rápido, possibilitando a produção de papel com pouco esforço. Uma das grandes consequências deste processo de simplificação das nossas florestas reside exatamente no risco de incêndios florestais. Enquanto uma grande quantidade de espécies originárias do nosso território, como o carvalho, castanheiro, entre outros, são de folha caduca e produzem poucos óleos essenciais, tornando-as mais resistentes a incêndios, as folhas do eucalipto são altamente inflamáveis, especialmente quando secas, no verão.
Com um verão particularmente pouco incendiado em Portugal continental, o aumento inesperado da temperatura em setembro revelou o quão pouco preparados os nossos terrenos estão para as alterações climáticas. Se no início do verão, são frequentes as campanhas de promoção de limpeza de terrenos, estas são inexistentes nesta altura do ano, resultando num fator surpresa que torna os incêndios bastante mais perigosos.
Enquanto comunistas revolucionários, não podemos deixar de criticar a exploração voraz dos recursos naturais que se tornou tão característica do capitalismo moderno. Se hoje assistimos a uma das mais graves rondas de incêndios de que há memória em Portugal, tal é devido à industrialização capitalista, ao consumo excessivo de combustíveis fósseis e grande individualização do setor dos transportes. Algo apenas agravado pela liberalização e privatização das florestas por parte dos sucessivos governos portugueses, que desresponsabilizam o governo central e as grandes empresas e que provocam o maior estrago na vida das famílias e pequenos agricultores.