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As declarações de Macron e os planos dos imperialistas

Arturo Rodríguez

Há umas semanas, Emmanuel Macron surpreendia a opinião pública ao declarar que o envio de militares dos países europeus para a Ucrânia “não está excluído”. “Faremos tudo o que for necessário para que a Rússia não possa ganhar esta guerra, tudo é possível para atingir esse objetivo”, acrescentou. Estas afirmações foram recebidas por um coro de críticas e refutações de diferentes líderes europeus, começando pelo chanceler alemão Olaf Scholz. Só a pequena Lituânia, prestes a mergulhar no holocausto nuclear, apoiou Macron.

Com efeito, as declarações de Macron não devem ser levadas muito a sério. Refletem o seu desespero perante a catastrófica situação que o imperialismo ocidental encara na Ucrânia. O país está a ser derrotado militarmente pela Rússia, a sua dependência da NATO é já absoluta, há divisões nas suas elites e um profundo descontentamento na sociedade. Ao mesmo tempo, os republicanos estão a bloquear o pacote de ajuda dos EUA à Ucrânia, o que obriga à Europa a arcar com o peso da guerra. Mas nem a Europa está muito unida neste assunto. A reticência húngara em continuar a enviar armas e recursos a Kiev é a expressão mais estridente de divisões profundas sobre como sair do atoleiro ucraniano, que vieram à tona nas críticas de Scholz a Macron. A guerra na Ucrânia, que a NATO procurou, e que prolongou sabotando o acordo de paz de março de 2022, tem-se verificado uma derrota humilhante para os imperialistas norte-americanos e, sobretudo, europeus, que agora passam-se a batata quente entre eles.

As declarações incendiárias de Macron refletem o seu desespero. Mas ao mesmo tempo assinalam a aceleração do processo de rearmamento e fortalecimento do imperialismo europeu numa fase de acirramento dos conflitos interimperialistas. Com efeito, uns dias depois, Ursula von der Leyen afirmou que a guerra “pode não ser iminente, mas não é impossível”. Borrell e outros representantes da União Europeia fizeram declarações similares, agitando a ameaça de uma guerra com o diabólico regime de Putin no futuro próximo. O objetivo é, pelo menos, aumentar a despesa militar de todos os países até o 2% do PIB. Os média “livres” repetiram fielmente o slogan dos amos. Se em Portugal esta histeria belicista não se tem sentido muito, não é porque a nossa burguesia discorde com estes planos, mas para evitar levantar questões espinhosas durante as eleições.   

Os agouros de um ataque iminente da Rússia são propaganda barata e estúpida. Putin está a ter dificuldades para atingir os seus objetivos mínimos na Ucrânia (a conquista das províncias de Donetsk, Lugansk, Zaporizhe e Kherson), e a ideia que possa ou queira abalançar-se sobre o Báltico o a Finlândia, ou ainda levar os seus tanques até o Cabo da Rocha, é simplesmente delirante. Os imperialistas, incluindo Putin, não fazem guerras por maléficos anseios de domínio, mas com objetivos materiais bem concretos: a conquista de mercados, de recursos e áreas de influência. Por este motivo, é extremamente improvável que os imperialistas europeus se arrisquem a travar uma guerra com a Rússia, que poderia tornar-se nuclear rapidamente. Eles fazem a guerra para saquear o mundo, não para destrui-lo.

As premonições de uma guerra com a Rússia dos imperialistas europeus procuram gerar um clima de histeria belicista que justifique o fortalecimento da maquinaria militar europeia, em resposta aos reveses na Ucrânia e às exigências dos EUA de uma maior despesa militar, agitadas particularmente por Trump (mas não só por ele). Ao mesmo tempo, os capitalistas esperam que esta histeria belicista distraia e assuste a classe trabalhadora, e tolde a profunda crise social e económica em que a Europa está mergulhada (e a luta dos agricultores tem sido um sinal alarmante das condições explosivas que se estão a criar). Estes tambores de guerra também podem ser eventualmente utilizados para endurecer a repressão, o que já se tem verificado durante as mobilizações pela Palestina. A burguesia europeia quer compensar a sua perda de competitividade atacando a classe operária – quer que sejam os trabalhadores a pagarem a crise, e se prepara para isso tentando criar um clima de medo e histeria. 

Portanto, nós comunistas rejeitamos frontalmente esta avalancha belicista reacionária. Rejeitamos os apelos aos “valores europeus”, à “democracia” e à “luta pela liberdade da Ucrânia”. Estes imperialistas que apoiam o genocídio contra Gaza não têm direito nenhum a falar em democracia, soberania ou liberdade. Os que se dispõem a enviar Julian Assange às cadeias norte-americanas por ter dito a verdade também não têm a integridade moral em lamentar a morte de Navalny ou a criticar Putin. Von der Leyen, Macron ou Borrell são bandidos imperialistas. A sua tagarelice sobre a democracia é totalmente oca e só procura enganar o povo. É verdade que a Rússia é uma ditadura capitalista brutal, mas a tarefa de derrubar o regime de Putin pertence ao povo russo, não aos imperialistas europeus, cujo belicismo, de facto, só fortalece Putin politicamente. Opomo-nos a quaisquer aumentos na despesa militar, numa fase de cortes e austeridade, quando o SNS e a edução estão a ruir. Esses investimentos em forças destrutivas não são para defender as nações da Europa, mas para conquistar mercados, rotas comerciais e áreas de influência, atacar países fracos e esmagar revoltas, como se tem verificado no bombardeamento do Iémen.

As guerras imperialistas são inevitáveis no capitalismo. As forças produtivas criadas pelo capitalismo transbordam os estreitos limites dos Estado nacionais, e fazem com que as diferentes burguesias lutem desesperadamente pela partilha do mercado mundial. A luta pela paz, portanto, é uma luta contra o capitalismo. O capitalismo está a afundar, provocando crises, injustiças, a destruição do planeta e violência. É verdade, como avisa Von der Leyen, que se preparam novas guerras e conflitos interimperialistas. Mas há uma outra guerra que está em amadurecimento: a guerra de classes dos trabalhadores contra a burguesia. Organizemo-nos e preparemo-nos para essa guerra!

Não aos planos belicistas da UE e da NATO!

Não ao esbanjamento militarista!

Desmascaremos as mentiras imperialistas!

Investimentos em saúde, educação e habitação, não em mísseis!  

Abaixo o imperialismo, abaixo o capitalismo!

Paz às cabanas e guerra aos palácios!

Trabalhadores do mundo, uni-vos!

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