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Outdoor do Partido de extrema direita Chega

Venturismo vs. Realidade: desmentindo os fantoches do capital

Ventura: ciganos

André Ventura, sob o rótulo de político antissistema propaga uma retórica de racismo e intolerância sobre o povo cigano, critica especialmente os ciganos na questão da criminalidade como se fosse uma questão étnica em vez de ser uma questão socioeconómica complexa:

“Em muitos dos episódios de violência em Portugal, em muito do terror que tem sido provocado em tantos distritos deste á hora que nos ouvem, os portugueses sabem que um dos grandes problemas que temos é a comunidade cigana em Portugal”.

Os crimes cometidos pelos pobres são causados pela privação económica, desigualdades sociais, pobreza, falta de saneamento, habitação, educação, salários, entre outros. No entanto, o que é que Ventura propõe fazer para combater o crime? Políticas de discriminação e um aumento da presença policial nas comunidades ciganas. Essas políticas, além de não resolverem os problemas institucionais da criminalidade, apenas promovem ódio e chauvinismo português.

As políticas económicas de André Ventura promovem a criminalidade entre os mais pobres devido à falta de condições económicas. O resultado das políticas de Ventura em relação à criminalidade e à economia é a pobreza geral e a “criminalização” da pobreza.

O povo cigano é uma das minorias europeias com menos acesso às suas necessidades básicas, cuja falta cria as condições para a criminalidade. 96% dos ciganos vivem abaixo do limiar de pobreza, 48% enfrenta alguma forma de privação séria, só 29% das crianças entre os três e os seis anos frequentam um infantário. Apenas 10% dos jovens entre os 20 e os 24 anos completaram o ensino secundário.

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Associação Nacional Internacional Cigana no 25 de Abril 2022
(mais sobre eles em https://techari.pt/ )

 A única maneira de resolver o problema criminalidade na comunidade cigana e em todas as comunidades onde a pobreza e discriminação são prevalentes é acabar com o chauvinismo português promovido pelas classes burguesa para desunir o proletariado e fornecer as necessidades básicas aos trabalhadores.

O sistema capitalista injusto e desigual vai sempre promover o chauvinismo e a pobreza geral das massas, pois o capital tem o objetivo de explorar o povo ao máximo. O processo de globalização capitalista também promove a reação chauvinista e nacionalista da pequena burguesia.

Somente através de uma república socialista e da gestão democrática da economia é possível manter os ganhos sociais e fornecer as necessidades reais da classe trabalhadora. Em outras palavras, apenas através do comunismo é que a liberação do povo cigano e das minorias étnicas será possível.

Ventura: Refugiados e os imigrantes

A imigração teve um papel fundamental no processo de globalização, contribuiu para a superação de costumes antiquados e preconceitos nacionais, além de internacionalizar e unir trabalhadores como uma classe por meio da indústria moderna. O processo migratório é impulsionado pela discrepância entre as condições de vida do país de origem do imigrante e as do país de destino, sendo que as condições de vida no país natal são piores do que o país a que imigra.

Na época da revolução industrial, o desenvolvimento tecnológico que criou a maquinaria em larga escala, levou ao desenvolvimento económico e ao aumento dos salários domésticos acima da taxa media e assim atraindo a população de países mais atrasados, os imigrantes vindos destes países eram explorados pela classe capitalista sendo tratados como escravos modernos com salários mais baixos e condições de vida miseráveis fomentando assim a competição e o chauvinismo nacional, Lenin disse:

“A burguesia incita os trabalhadores de uma nação contra os de outra na tentativa de mantê-los desunidos. Os trabalhadores com consciência de classe, percebendo que a derrubada de todas as barreiras nacionais pelo capitalismo é inevitável e progressiva, estão tentando ajudar a esclarecer e organizar seus companheiros de trabalho dos países atrasados.”

“Não há dúvida de que a extrema pobreza por si só obriga as pessoas a abandonar sua terra natal e que os capitalistas exploram os trabalhadores imigrantes da maneira mais desavergonhada. Mas só os reacionários podem fechar os olhos ao significado progressivo desta migração moderna das nações. A emancipação da tirania do capital é impossível sem o desenvolvimento do capitalismo e sem a luta de classes que nele se baseia. E é para essa luta que o capitalismo está atraindo as massas trabalhadoras de todo o mundo, derrubando os hábitos bolorentos e enferrujados da vida local, derrubando barreiras e preconceitos nacionais, unindo trabalhadores de todos os países em enormes fábricas e minas em América, Alemanha, e assim por diante.”

No capitalismo atual, os imigrantes são o epicentro da retórica populista. A direita populista divide os imigrantes em dois tipos: “imigrantes legais” e “imigrantes ilegais”. Os “imigrantes legais” são defendidos por André Ventura, Trump e a direita populista, sendo considerados os “bons imigrantes”. Por outro lado, os “imigrantes ilegais” são rotulados pela direita reacionária como aqueles que roubam do estado e vivem às custas do povo. Ventura afirma o seguinte:

 “Umas [pessoas] terão vindo por bem e terão vindo para trabalhar, outros serão ilegais ou não. E os que forem, não são bem-vindos. Mesmo que me tenham cumprimentado e que estejam aqui, a minha mensagem é a mesma: os imigrantes ilegais não são bem-vindos”

Mas a que se referem André Ventura e a direita populista quando mencionam a legalidade dos imigrantes? Quando os reacionários falam de imigração ilegal, não estão a referir-se apenas à legalidade burguesa em si. Eles estão especificamente a falar sobre proibir a imigração proveniente de países economicamente mais atrasados que tiveram ou ainda têm relações coloniais/neocoloniais com o Ocidente e que foram sistematicamente destruídos pelo Ocidente.

André Ventura possui uma retórica explícita que ataca imigrantes oriundos deste tipo de países, especialmente quando se refere ao fundamentalismo islâmico. O caracter social predominante desta retórica é o racismo e o chauvinismo europeu. Ventura afirma que os imigrantes com origem nos países mencionados pretendem atacar a cultura portuguesa e viver às custas do estado português, como André Ventura afirma:

“[Queremos] proibir, também, a entrada daqueles que vêm ou com objetivo de recolher subsídios ou de transformar ou submeter-nos culturalmente como é o caso de algum fundamentalismo islâmico”

A retórica de Ventura pode não ser claramente identificável à primeira vista, mas se analisarmos a história do fascismo e do reacionarismo, podemos identificar que ideias odiosas não aceitas pela maioria da sociedade são transformadas em “dogwhistles” – mensagens políticas codificadas que visam transmitir uma ideia para um subgrupo-alvo. Ventura não pode dizer abertamente que deseja expulsar todos os imigrantes negros e pobres de países com relações coloniais/neocoloniais com o Ocidente, pois isso geraria um grande escândalo. Em vez disso, ele usa a retórica dos “imigrantes ilegais” como uma falsa justificativa.

Na realidade, os imigrantes representam uma pequena percentagem da população em Portugal e não afetam significativamente o estado de bem-estar do país, sendo apenas 5% dos residentes. Além disso, os imigrantes sobrecontribuem para o estado de bem-estar português contribuindo mais do que beneficiam do estado, tendo contribuído com 1200 milhões de euros para a segurança social em 2021. No entanto, muitos imigrantes vivem em situações de pobreza e são explorados pelo capital, com 42,3% dos imigrantes de fora da União Europeia vivendo em habitações sobrelotadas. Além disso, cerca de 35% dos imigrantes estão em risco de pobreza, e há uma diferença de 30% nos salários entre trabalhadores nacionais e imigrantes.

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Autoridades turcas recuperam o corpo de uma criança que morreu afogada durante a tentativa da família de chegar à ilha grega de Kos (Foto REUTERS)

Autoridades turcas recuperam o corpo de uma criança que morreu afogada durante a tentativa da família de chegar à ilha grega de Kos (Foto REUTERS)

Para os reacionários, também existe dois tipos de refugiados: os que lutam pela hegemonia ocidental: os refugiados que fogem de um “tirano louco” e os refugiados de África e medio-oriente que fogem das guerras perpetuadas pelo ocidente e não tem utilidade política, só de trabalho barato: os refugiados que vivem á conta do estado.

André Ventura afirmou antes da guerra russo-ucranianaz que Portugal não tinha dinheiro para acolher refugiados:

 “Como é que nós podemos continuar sem dinheiro para contratar médicos e temos tanto dinheiro para desperdiçar em tudo o que não interessa em Portugal, como para acolher refugiados, dar-lhes casas e continuar por aí adiante? Essa é a verdade que custa ouvir, mas é a verdade que os portugueses devem ouvir.”

Agora ele fala claramente que só defende os refugiados que lutam pela “civilização europeia”, o “dogwhistle” dos refugiados que serve apenas para atacar pessoas extremamente vulneráveis que fugiram de guerras causadas pelo Ocidente, de regimes ditatoriais ou semicolônias controlados ou apoiados por países como França, Estados Unidos e outros países europeus. Essa retórica deixou de ser um “dogwhistle” quando a política dos países europeus em relação à guerra na Ucrânia e a popularidade da mesma se tornaram evidentes, e Ventura admite isso explicitamente:

“Dizem que não temos uma opinião sobre os refugiados que estão a chegar a Portugal. Dizem que a nossa opinião não é clara, porque viram duas ou três que são um bocadinho diferentes. A nossa posição sempre foi muito clara. Neste conflito, que agora assola a Europa, nós estamos do lado daqueles que defendem as fronteiras, a soberania e a civilização. Neste conflito há uma potência agressora e um país que se defende. (…)

Perante aquilo que nos tem entrado pela televisão, dentro de casa: homens e mulheres afastados das suas casas, dos seus prédios, dos seus animais de estimação e de tudo aquilo que lhes é mais querido, homens e mulheres obrigados a fazer quilómetros à chuva, à neve e ao frio por causa de um tirano louco que quer destruir a Europa, a nossa posição é uma só, ao lado da Europa, ao lado de Portugal e ao lado da civilização que continua a ser a nossa.”

A distinção entre refugiados europeus e não-europeus prova as ideias racistas e chauvinistas de Ventura e os seus aliados sobre refugiados e imigrantes.

Como socialistas, temos a responsabilidade de apoiar aqueles que fogem das guerras que nós, europeus, causámos, dos ditadores e regimes políticos que apoiamos no Médio Oriente e África. Devemos também apoiar os refugiados da guerra na Ucrânia, que foi causada tanto pelo Ocidente como pela Rússia. Além disso, devemos prestar assistência aos refugiados que sofrem as consequências das mudanças climáticas, as quais foram causadas e promovidas pela ordem mundial capitalista, sustentada e liderada pelo Ocidente. Os refugiados árabes não vieram para Portugal porque nos querem roubar; vieram porque nós destruímos as suas casas.

A tarefa dos comunistas, no contexto da imigração, é promover a maior cooperação entre os trabalhadores através das fronteiras e transformar as organizações nacionais da classe trabalhadora em organizações internacionais, além de opor-se aos controlos de imigração e acabar com a exploração dos imigrantes. Os imigrantes de países economicamente mais atrasados são valorizados pelo capital devido à sua mão de obra barata. No entanto, ao atacar os imigrantes, estamos a atacar a classe trabalhadora internacional e não a causa fundamental da diminuição dos salários.

A verdadeira oposição à diminuição dos salários pela burguesia só pode surgir da classe trabalhadora, não da classe burguesa. Somente a classe trabalhadora unida contra o capital e contra a exploração dos imigrantes pode lutar contra a precariedade e a diminuição dos salários.

O objetivo do capital é reduzir os salários e benefícios abaixo do valor do trabalho, visando maximizar o lucro através da máxima eficiência. Para alcançar esse objetivo, o capital procura criar competição entre os trabalhadores, o que inevitavelmente gera chauvinismo e conflitos entre trabalhadores de diferentes nações, desunindo os trabalhadores e permitindo a estratégia de dividir para conquistar.

O capital utiliza a retórica anti-imigrante não apenas para marginalizar e privar os direitos dos trabalhadores imigrantes, aumentando a extração de mais-valia e assim aumentando a sua exploração, mas também para privar os direitos trabalhistas e aumentar a exploração da classe trabalhadora como um todo.

Os trabalhadores têm o direito de exigir igualdade de remuneração entre nativos e imigrantes.

A verdadeira face do Ventura e os verdadeiros criminosos

O estabelecimento atual não é socialista, como Ventura diz. O estabelecimento atual é capitalista, e o PS não é um partido socialista que promove o socialismo, que é a gestão democrática dos meios de produção e controle político pela classe trabalhadora. O PS e sua liderança promovem a anarquia de mercado, ou seja, o sistema capitalista.

O 25 de abril representa o verdadeiro antiestabelecimento só a classe trabalhadora e sua luta contra o capital é que representa o verdadeiro anti-estabelecimento: A revolução popular de 25 de abril, desencadeada por um golpe militar, foi uma expressão da luta da classe trabalhadora portuguesa que queria uma república socialista com gestão democrática e social dos meios da produção. O estado atual reflete essa traição ao 25 de abril, com a eliminação de conquistas sociais importantes como as comissões de trabalhadores e campesinos, nacionalizações das indústrias essenciais, tribunais populares, etc…

Para cumprir abril, temos de derrubar o capitalismo. (Leia mais sobre o 25 de abril em https://www.comunistasrevolucionarios.pt/licoes-de-abril/ ).

Ventura não só proclama ser contra o 25 de Abril, mas chama os trabalhadores que lutaram pela sua libertação e por reformas de bandidos e pretende criar uma nova república que remova totalmente os ganhos de Abril:

“quem cometeu atos terroristas, quem patrocinou e promoveu nacionalizações e expropriações não pode ser um herói, tem de ser considerado aquilo que é, um bandido”.

“Essa ainda vai ser a nossa missão de o concretizar. Pode não ser correto, pode não ser politicamente aceitável, pode nem ser moralmente viável, mas hoje é o momento em que há uma força política nesta Assembleia que diz o 25 de Abril não esqueceremos, mas queremos outro, queremos outra democracia, e queremos outra república, queremos a quarta República portuguesa”.

O verdadeiro estabelecimento não reside nos políticos em poder, pois eles não passam de marionetes nas mãos do verdadeiro estabelecimento. Quem financia e financiou todos os governos no poder? Quem controla os meios de comunicação? Quem governa as redes sociais e seus algoritmos? Quem controla a educação e os tribunais? A classe burguesa é o estabelecimento, e a direita populista obedece e vende-se a essa classe. A retórica pequeno-burguesa anti-estabelecimento do CHEGA rapidamente se afunda quando olhamos para os interesses por trás do CHEGA e de sua liderança. A retórica de Ventura é formada pelos grandes interesses que formam o estabelecimento atual. Vamos olhar para a política de Ventura defendendo os “direitos” da polícia. A polícia faz parte da maquinaria do estabelecimento, que impõe a defesa da propriedade da burguesia contra a classe trabalhadora. A realidade é que Ventura “teve almoços” (ou seja, é apoiado economicamente) com João Maria Bravo, dono do grupo Sodarca, que lidera o fornecimento de armas, munições, tecnologia e equipamento militar ao Estado burguês, ao exército burguês e à polícia. Portanto, a retórica de Ventura sobre a defesa da Ucrânia com armas e seu apoio à polícia vêm de seus almoços com os vendedores de armas.


Ventura precisa tentar convencer os mesmos empresários que apoiaram os supostos governos “estabelecidos” tendo outro “almoço” no International Club of Portugal, revelando que o CHEGA é uma farsa e que Ventura é um hipócrita. Ele quer se apresentar como uma verdadeira alternativa ao governo socialista! Mas para quem? Para os empresários. Ventura quer dar novas oportunidades ao capital para aumentar a exploração da classe trabalhadora, cortando regulamentos trabalhistas e eliminando impostos, promovendo austeridade para os pobres e enchendo os bolsos das “elites” burguesas. Ao mesmo tempo, ele se proclama anti-estabelecimento para obter votos das pessoas que sofreram com as políticas reformistas, liberais do sistema e da globalização socialista. A única alternativa verdadeiramente anti-estabelecimento é o comunismo e a república socialista, é a classe trabalhadora a esmagar o estado capitalista e criar um estado popular com gestão democrática dos meios de produção.

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António Costa no International Club of Portugal.

António Costa no International Club of Portugal.

Ventura e a direita populista falam de uma inquisição contra o crime e corrupção, mas só mencionam pequenos crimes de minorias étnicas ou crimes do governo do Partido Socialista. No entanto, eles não falam dos crimes nem de seus apoiantes, como Nelson Dias da Silva (secretário da Mesa da Convenção Nacional do Chega e porta-voz da organização “Portugueses Primeiro”, de inspiração nazi), Tiago Monteiro (líder do Chega em Mafra e ex-dirigente da Nova Ordem Social), Luís Filipe Graça (presidente da Mesa da Convenção Nacional do Chega, dirigente e fundador da organização neonazi ‘NOS’, cujo dirigente máximo foi Mário Machado). Esses líderes estiveram à frente de organizações fascistas e nazistas, que deveriam ser ilegais de acordo com a lei que proíbe organizações com ideologia fascista (artigo 1 da Lei n.º 64/78, de 6 de outubro, uma lei que não é realmente aplicada).

Além disso, seu amigo americano Trump foi condenado por abuso sexual, difamação e está a ser acusado de subornar uma prostituta de filmes pornográficos para manter em segredo as suas relações conjugais atuais. Também temos o caso de Bolsonaro, que não pode vir a Portugal á comissão do Chega (comissão dos bandidos internacionais), pois seus bens foram apreendidos por suspeita de falsificação de dados do COVID-19 e por outras razões relacionadas ao golpe militar no Brasil conspirado por seus apoiantes.

Os apoiantes burgueses do CHEGA usam, abusam e ignoram a lei para seu próprio proveito. O CHEGA é um partido de bandidos e criminosos cujo objetivo é promover a desunião da classe trabalhadora e extorqui-la. O CHEGA e a IL não só são partidos do estabelecimento, mas também são os partidos que se alinham mais ao estabelecimento no parlamento e que querem roubar o máximo possível da classe operária.

Leandro Bernardo

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