A escalada provocatória dos grupelhos nazis subiu novamente de tom com um cobarde ataque aos manifestantes do desfile do 25 de Abril. Um ataque que aconteceu com a complacência do Estado burguês. Lembremos que, inicialmente, a polícia não viu inconveniente que uma manifestação racista e islamofóbica, convocada por organizações assumidamente fascistas, se realizasse no dia 25 de Abril e no centro de Lisboa, numa óbvia provocação às comemorações de Abril e à comunidade imigrante do Martim Moniz. Apenas quando coletivos antifascistas declararam ser sua intenção não deixar o Martim Moniz entregue aos bichos (fascistas), é que a polícia voltou atrás e deu parecer negativo tanto ao porco no espeto à Mussolini, como à justa concentração antifascista na praça.
Mas é de relembrar, também, que Carlos Moedas, sempre tão listo em pôr-se em bicos de pé quando se trata da sua autopromoção, novamente lavou as mãos como Pilatos, escudando-se nos pareceres da PSP. Para quem faz alarde de se apresentar como um político moderado face aos “radicalismos”, sempre emudece perante os gangs nazi-fascistas que ameaçam quem vive em Lisboa. Zero condenações se escutaram da sua boca.
Impedidos de provocar no Martim Moniz pelo cordão policial montado, foram os nazis para o Largo de São Domingos, ali a dois passos e junto ao Rossio, onde terminaria a manifestação do 25 de Abril. Perfeitamente identificados com acessórios de roupa “1143” estiveram largos minutos a provocar os manifestantes antifascistas que espontaneamente fizeram uma barreira para não os deixar passar. E a polícia? Nem rasto! Mesmo tendo diante de si adolescentes, idosos, até crianças, os covardes tiveram de infiltrar um dos seus jagunços entre a multidão para, pelas costas, agredirem várias pessoas. E a polícia? Nem vê-la! Só muitos minutos depois da violência ter rebentado é que chegaram os agentes policiais. E só depois deles próprios (os polícias) terem sido agredidos pelos nazis é que o já condenado em tribunal à pena de prisão Mário Machado foi detido e os seus capangas postos em ordem, tal como aqueles cães que são castigados pelos donos, quando não respeitam os limites que devem obedecer. O líder fascista do Ergue-te também foi detido por desobediência, para ser solto horas depois e, assim, arranjar, tema para campanha eleitoral que se avizinha.
Pela enésima vez, ficou demonstrado à saciedade que não podemos contar com a polícia a o Estado burguês para nos proteger. Tem de ser o próprio movimento operário e popular, com as suas forças, a organizar a sua defesa. Isso significa que sindicatos e partidos de esquerda não podem continuar a assobiar para o ar, sob pena de amanhã estarmos a lamentar mais um assassinato às mãos destes gangs fascistas.
Na verdade, a manifestação era suposta estar protegida pelo seu “serviço de ordem”. Historicamente, os “serviços de ordem” das manifestações operárias tinham como objetivo assegurar a defesa dos seus participantes de possíveis ataques do exterior, fossem eles fascistas à paisana ou fardados.
Mas onde estava ontem o “serviço de ordem” da manifestação do 25 de Abril? A essa hora, queixa-se a própria, estava a assediar a Renata Cambra e os companheiros do Trabalhadores Unidos, bem como (de acordo com mais relatos) ativistas do Em Luta, Coletivo Ruptura… o que, sinceramente, não nos espanta! Se ontem não tivemos qualquer problema, manifestações tem havido em que tentaram impedir-nos, ao CCR, de desfilar com as nossas faixas e até de distribuir a nossa propaganda. E aqui chegados vamos ser claros: os “serviços de ordem” das manifestações da CGTP, estudantis e outras, todos o sabemos, são constituídos fundamentalmente por militantes do PCP.
Certo é que o “serviço de ordem”, sempre tão expedito em policiar a dissidência e os “bons costumes” dos manifestantes, quando a manifestação do 25 de Abril foi atacada pelos fascistas, estava em parte nenhuma. Falhou vergonhosamente naquela que deveria ser a sua missão: proteger os manifestantes, não da livre discussão de ideias, mas das rasteiras agressões dos fascistas. Esta falha é tanto mais grave, quanto era do conhecimento público que os fascistas (porque o anunciaram aos quatro ventos) se preparavam para montar uma ignominiosa provocação. A plataforma organizadora do desfile do 25 de Abril e o seu “serviço de ordem” não previram, não precaveram, nada fizeram. Ontem ninguém morreu (como já foram assassinados José Carvalho ou Alcino Monteiro) só porque os fascistas não quiseram, não porque nós estivéssemos preparados para os impedir. Era bom que quem se exibe nas manifestações com coletes coloridos e walkie-talkies refletisse nisso.
Infelizmente, nem esta indignidade parece ter perturbado os dirigentes da esquerda. Consultando as contas dos vários partidos nas redes sociais, as agressões de ontem, pura e simplesmente, não existiram. Para quem proclama patrimónios de luta antifascista e “a coragem de enfrentar a direita” … não está nada mau! Somando insulto à ferida, parece que o problema não foram as agressões, o problema é que a comunicação social deu “muita atenção mediática” às agressões! O melhor, portanto, será não se falar mais na esperança que, assim, os punhos dos fascistas se cansem de esmurrar os nossos corpos e decidam arranjar outro passatempo?
Que boa parte da comunicação social tenha apresentado as agressões no 25 de Abril como “confrontos entre extrema-direitas, polícia e antifascistas” equiparando agressores e agredidos, fascistas e antifascistas, tudo embrulhado num aparente “caso de polícia” e ordem pública, e não como uma questão política e um ataque à liberdade da nossa classe, parece também não ser um problema para estes dirigentes. Problema é a “atenção mediática” às agressões. Porém, quem não se coibiu de querer explorar a “atenção mediática” foram os dirigentes do Chega, com Rita Matias a defender o direito dos fascistas se manifestarem, isto é, provocarem e agredirem, bem como André Ventura a responsabilizar a esquerda pela violência que os fascistas provocaram. Já os agredidos, esses, não tiveram tempo de antena algum.
E, contudo, a comemoração do 25 de Abril foi, uma vez mais, uma jornada extraordinária celebrada por todo o país e que trouxe à Avenida da Liberdade centenas de milhares de manifestantes, muitos deles jovens que são filhos e netos dos trabalhadores que há 50 anos atrás, em pleno processo revolucionário em curso, tentavam mudar o país e o mundo, também eles enfrentando as provocações e as agressões fascistas. Uma das mais importantes lições de Abril é que a classe operária apenas pode contar com as suas próprias forças, com a sua organização independente, não pode deixar a sua defesa nas mãos do Estado, seja na figura dos Capitães, da Constituição por mais “progressista” que aparente ser ou do comando geral da PSP. E os trabalhadores também não podem deixar a defesa dos seus interesses, das suas lutas e das suas vidas nas mãos daqueles dirigentes que em palavras se ufanam da coragem de enfrentar a direita, mas em atos se encolhem de o fazer.
E quanto ao governo? Lamenta os “confrontos” – não foram “confrontos”, mas agressões realizadas com premeditação – e recusa-se a apontar o dedo à extrema-direita . O que, para aqueles dirigentes de esquerda que lamentam a “atenção mediática”, por coerência só podem agora agradecer ao governo pela discrição com que (não) lida com os fascistas… pois este não é caso virgem! O governo ainda há dias “apagou” do Relatório Anual de Segurança Interna as referências aos perigos que os grupos organizados de extrema-direita apresentam. Para Montenegro e para os seus pares, “perigosos” serão os ativistas climáticos, em particular aquele jovem a quem o primeiro-ministro tentou extorquir um fato topo de linha da Hugo Boss, cujo fundador (coisa curiosa) foi ele próprio um nazi… Agora digam lá se não há coisas que não se inventam?
Veja-se o padrão: os grupúsculos fascistas atacam, o Estado permite, a comunicação social desinforma e os dirigentes de esquerda relativizam até à próxima provocação.
Isto quando, mais do que nunca, Portugal precisa duma nova revolução. Há força potencial para isso. Ontem, mais uma vez, vimos algumas dezenas de delinquentes de um lado e centenas de milhares de jovens e trabalhadores do outro. Mas ontem como hoje, necessitamos de organizar a classe trabalhadora para derrubar o capital e destruir o estado burguês, terminando a revolução que os nossos pais e avós não puderam concluir, cumprindo Abril.
Há força para isso, haja organização para tal!
25 de Abril sempre, fascismo nunca mais!