Artigo de Michael Omatsola-Morgan
A cimeira da COP deste ano começou de forma burlesca, com o chefe da conferência a ser apanhado a intermediar acordos lucrativos sobre combustíveis fósseis e com muitos líderes mundiais a nem sequer se darem ao trabalho de aparecer! Os capitalistas são incapazes de resolver a crise climática.
Nos últimos meses, o noticiário internacional tem sido dominado por eventos climáticos extremos causados pelas mudanças climáticas. Dos furacões nos EUA às inundações em Valência, a crise climática está a destruir mais vidas e meios de subsistência do que nunca e a alimentar a raiva pública pela inação dos governos.
Dada a gravidade desta confusão, as pessoas devem estar certamente a saltar de alegria pelo facto de chefes de Estado de todo o mundo se terem reunido no Azerbaijão para a COP29?
Não exatamente.
Se havia alguém por aí ainda prestando atenção às cúpulas da COP, a conferência deste ano está provando rapidamente o quanto as “respostas” da classe dominante são uma farsa.
Para começar, a cimeira realiza-se num verdadeiro “petro-Estado”, com o petróleo a representar 90% das suas exportações. Isso é tão surdo quanto organizar uma convenção de veganismo num matadouro.
Além disso, o presidente-executivo da COP29, Elnur Soltanov, foi recentemente exposto por ter discussões secretas promovendo negócios lucrativos de investimento na SOCAR, a maior empresa de petróleo e gás do Azerbaijão.
Durante essas reuniões, Soltanov afirmou que as “portas do Azerbaijão estão abertas” para toda e qualquer solução climática – incluindo as de empresas de petróleo e gás – mencionando casualmente que “temos muitos campos de gás que estão a ser desenvolvidos“.
O facto de fazer parte do conselho de administração da SOCAR, para além de ser vice-ministro da Energia do Azerbaijão, é certamente uma pura coincidência.
Estes procedimentos farsescos estão a tornar-se uma tradição anual. A cimeira da COP do ano passado foi liderada pelo sultão Al Jaber, presidente-executivo da Abu Dhabi National Oil Company.
O ponto-chave da agenda deste ano são os novos objetivos em matéria de «financiamento da luta contra as alterações climáticas». A ONU estima que é necessário um impressionante 1 trilião de dólares por ano para “ajudar” os países em desenvolvimento na sua ação climática.
Mas por trás da linguagem verde do “financiamento climático” estão os interesses do imperialismo. O único objetivo do investimento sob o capitalismo é arrecadar bastantes juros – independentemente de os empréstimos serem ecologicamente corretos. E a ajuda externa das nações ricas para as nações pobres tem sempre contrapartidas.
De onde virá esse trilião de dólares é uma incógnita. Países de todo o mundo já estão afogados em dívidas públicas e privadas. Talvez apareça atrás duma almofada num sofá de alguém.
Os líderes das maiores economias do mundo – Joe Biden, Xi Jinping e a comissária europeia Ursula von der Leyen – renunciaram à sua habitual presença simbólica em favor de simbolicamente nem se darem ao trabalho de comparecer.
Mas talvez seja para o melhor. Com os conflitos armados, as guerras comerciais e a rivalidade imperialista a aquecer por todo o lado, a sua habitual lengalenga sobre “cooperação internacional” provavelmente não aterraria muito bem.
29 cimeiras da COP chegaram e desapareceram, e a crise só está a piorar. No mês passado, o relatório Emissions Gap da ONU revelou que, mesmo que as políticas atuais sejam implementadas, a temperatura média global poderá aumentar 3,1°C até 2100. Este valor é mais do dobro do objetivo fixado no Acordo de Paris de 2015.
Os capitalistas são incapazes de resolver a catástrofe climática. Temos de matar o seu sistema, antes que o seu sistema nos mate!